A Petrobras recebeu a presidente Dilma Rousseff ontem em um dia reservado para comemorações. Anunciou que produziu 1, 975 milhão de barris por dia de petróleo em maio, 4,4% a mais que no mesmo mês de 2013, e divulgou ainda que o pré-sal já produz mais de 500 mil barris.
A direção da petroleira recebeu a cúpula do governo que vem fazendo do pré-sal uma marca da administração petista. Além da presidente da República, compareceram o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, só para citar algumas autoridades.
O que não foi destacado é o fato de a produção da estatal estar andando “de lado”, como admitiu a presidente da empresa, Graça Foster. A média produzida pela Petrobras até maio soma 1,935 milhão de barris de petróleo, ainda abaixo dos 2,004 milhão de barris produzidos em 2010.
Até agora, a adição de novos barris do pré-sal não está acrescentando mais volume à produção do Brasil, mas sim substituindo a queda acentuada da Bacia de Campos, acima da média história de 10% ao ano.
Em 2014 a Petrobras anunciou sucessivos recordes de produção no pré-sal. Atingiu o pico de 520 mil barris diários em 24 de junho e ontem devia encerrar o dia produzindo 515 mil barris. Como são esperados novos poços e plataformas na área que será explorada até 2050, a produção será crescente por décadas e, a cada poço conectado a uma plataforma, recordes serão quebrados sucessivamente.
Na festa em que o geólogo e ex-diretor Guilherme Estrella foi premiado com uma placa comemorativa por liderar o “time” responsável pela descoberta do pré-sal em 2006. Alguns dados apresentados são impressionantes, como apontou o diretor de exploração e produção, José Formigli.
Ao mostrar o êxito na área, que chegou aos 500 mil barris oito anos após a descoberta, Formigli lembrou que a Petrobras demorou 31 anos para produzir os primeiros 500 mil barris de petróleo, e 21 anos para atingir o mesmo volume na Bacia de Campos.
Ao defender a companhia de críticas, a presidente Dilma tomou para o governo do PT o mérito da descoberta do pré-sal. Foi um evento político, bem montado, com cerca de 50 jornalistas de todo o país convidados pela Petrobras, o que a empresa disse ser comum em eventos desse tipo. Ao mencionar a solidez da Petrobras, Dilma disse que a companhia “mostrou a incrédulos que o pré-sal é riqueza palpável e tangível que pertence ao povo brasileiro”.
A presidente voltou a afirmar que é preciso ter uma visão de longo prazo sobre a companhia em vez de uma percepção de “curtíssimo prazo”. Foi mais uma crítica aos investidores que receberam mal a contratação direta da Petrobras para explorar entre 10 e 15 bilhões de barris em reservas de petróleo e gás que excedem os 5 bilhões adquiridos pela estatal no regime de cessão onerosa, em 2010. A aquisição vai custar à endividada empresa R$ 15 bilhões, sendo R$ 2 bilhões em bônus pagos este ano.
Dilma afirmou ainda que fatos isolados “não vão abalar a credibilidade e história da Petrobras”, em referência às recentes denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito que envolvem os ex-diretores da empresa Paulo Roberto Costa, que voltou a ser preso, e Nestor Cerveró, e as investigações de pagamento de suborno pela SBM Offshore.
A última polêmica envolvendo a empresa e o governo, seu maior acionista, foi a incorporação de áreas excedentes da cessão onerosa. A área pode acrescentar reservas prováveis de até 15,2 bilhões de barris de óleo equivalente para a companhia, elevando para 20 bilhões de barris as reservas em seis campos.
“Pessimistas se confrontam com a realidade de que a Petrobras produz hoje 500 mil barris por dia no pré-sal”, afirmou Dilma, que destacou muitas vezes que a maior riqueza que a companhia vai produzir no futuro com a exploração do pré-sal será para o povo brasileiro. Fazendo referência ao escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, Dilma afirmou que “o Brasil é a pátria com as mãos sujas de óleo” e afirmou que o pré-sal será uma oportunidade sem precedentes. Em um autoelogio, a presidente afirmou que é correta a política que criou a partilha de produção com conteúdo local elevado, na qual parte das receitas serão destinadas a um fundo social.
E enumerou entre os benefícios o crescimento econômico, o avanço social e o aumento da oferta de empregos. E repetiu uma conta, não esclarecida, afirmando que o petróleo vai render R$ 1,3 trilhão nos próximos 35 anos, grande parte destinado à saúde e educação. Faltou mencionar as centenas de bilhões de dólares que terão que ser investidos para que tudo isso se realize.
Ainda no evento, Graça garantiu que a companhia fará sim uma correção dos preços dos combustíveis, sem indicar quando.