RIO DE JANEIRO – O primeiro leilão de áreas de exploração de petróleo e gás no Brasil em quase cinco anos atraiu forte interesse de empresas brasileiras e estrangeiras, garantindo ao governo o valor recorde de 2,8 bilhões de reais com a venda de 140 blocos.
A estimativa inicial da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para o leilão, que incluiu 11 bacias sedimentares e terminou um dia antes do previsto, era de uma arrecadação de cerca de 2 bilhões de reais.
O leilão teve como grande ganhadora a britânica BG, disse a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard.
“A BG foi uma grande vencedora. Outro contorno importante é ver OGX e Queiroz Galvão se consolidando como operadoras de águas profundas, e a Petra Energia como uma empresa que vai se consolidando como operadora terrestre, com apetite para gás natural”, disse Magda.
A ANP estima que a 11a rodada deverá gerar investimentos da ordem de 7 bilhões de reais. O ágio em relação ao preço mínimo estabelecido pelo governo para os blocos licitados foi de quase 800 por cento.
O Brasil não promovia uma rodada desde 2008, ano em que suspendeu os leilões devido à descoberta do pré-sal e enquanto elaborava um novo marco regulatório para elevar o controle sobre essa riqueza. A área do pré-sal ficou fora da 11a rodada e terá uma licitação especial em novembro.
“O que está acontecendo neste leilão mostra que há uma demanda reprimida. As empresas realmente querem expandir suas atividades no Brasil”, afirmou o presidente da petrolífera norueguesa Statoil, Thore Kristiansen, logo após participar de lances que garantiram à companhia os direitos de explorar seis blocos na bacia do Espírito Santo.
Na mesma linha, o presidente da Shell no Brasil, André Araújo, afirmou que o leilão é “prova de que país está atrativo”. A Shell, uma das maiores companhias globais do setor, ofereceu lances para seis áreas, nas bacias da Foz do Amazonas e Barreirinhas, mas não venceu nenhuma delas.
O resultado da licitação surpreendeu ainda pela força da OGX, do empresário Eike Batista, apesar da difícil situação de caixa da companhia. A OGX arrematou mais de 10 blocos, a maioria como operadora e alguns em parcerias, por mais de 370 milhões de reais, tendo apostado bastante na bacia do Ceará.
Ainda entre as brasileiras, outro destaque foi a Petra Energia. Ela ficou, por exemplo, com todos os blocos de um dos setores da bacia do Parnaíba.
A Petrobras, que sempre entrou com força em leilões de áreas de petróleo, desacelerou seu apetite por operação de blocos marítimos na 11a rodada, em meio a um orçamento comprometido por um robusto portfólio de campos do pré-sal e com a perspectiva de se tornar operadora única de áreas que serão ofertadas no leilão de partilha à frente.
Apesar disso, a estatal integrou o consórcio com a francesa Total e a britânica BP que fez o lance mais alto da rodada, por um bloco da promissora Foz do Amazonas, de 345,9 milhões de reais.
O presidente da Total no Brasil, Denis Palluat, afirmou que a grande aposta na Foz do Amazonas foi impulsionada, entre outros motivos, pela importante descoberta que realizou na Guiana em parceria com a Shell. A área fica próxima aos blocos arrematados no leilão desta terça-feira.
DISPUTA ACIRRADA
Mais de 60 companhias estavam habilitadas para o leilão. Segundo a ANP, 39 empresas de 12 países participaram, das quais 30 foram vencedoras –12 nacionais e 18 estrangeiras.
Chamou a atenção a grande concorrência na bacia do Foz do Amazonas, em região conhecida como margem equatorial. A semelhança geológica com a costa oeste africana –importante área petrolífera– fez dessa área uma das mais valorizadas do leilão.
Somente com oito blocos do Foz do Amazonas, a ANP arrecadou em lances mais de 750 milhões de reais.
Atualmente, a atividade de petróleo da bacia se resume a apenas dois blocos, ainda em fase de exploração, operados pela Petrobras. Não há área em etapa de produção.
Na bacia do Parnaíba, todos os blocos foram arrematados, uma situação rara em leilões da ANP. Descobertas de elevado potencial já foram realizadas nessa bacia, que tem área aproximada de 680 mil quilômetros quadrados e está distribuída entre Maranhão, Piauí, Tocantins, Pará, Ceará e Bahia.
Desde janeiro de 2012, a ANP recebeu oito notificações de descobertas na bacia Do Parnaíba. A OGX já produz gás a partir do campo Gavião Real na região, e a extração tem apresentado bons resultados. Petrobras e BP também são operadoras na bacia.
Na bacia de Barreirinhas, a principal vencedora foi a BG, sozinha ou em consórcio. A OGX arrematou um bloco em águas profundas e outro em águas rasas nesta bacia. Pelo último, a petrolífera de Eike deu lance de 80 milhões de reais, mais de 130 vezes o valor mínimo de 588 mil reais.
Também surpreenderam os elevados lances pela bacia do Espírito Santo, com dois deles superando o patamar de 100 milhões de reais, feitos pela Petrobras em parceria com estrangeiras. A estatal brasileira, a Perenco e a Repsol já operam na bacia marítima do Espírito Santo, inclusive com produção de petróleo e gás natural.
O total arrematado na 11a rodada foi equivalente a 100 mil quilômetros quadrados, ou dois terços da área ofertada, e ajudará a elevar a área exploratória de petróleo e gás no Brasil, que vem recuando nos últimos anos como consequência da suspensão dos leilões no período.
Segundo a ANP, os 149 lotes de áreas de exploração e produção em terra e no mar que não atraíram interessados poderão ser relicitados no futuro.