Mesmo tendo mostrado certa inapetência para manter sua habitual postura de liderar consórcios nas licitações para explorar petróleo no Brasil, a Petrobras foi, com sobras, a líder dos leilões da 11ª Rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP) realizada na terça-feira. A estatal investiu sozinha R$ 537,9 milhões na aquisição, total ou parcial, de direitos exploratórios em 34 blocos, 30% a mais em valor do que os R$ 415,5 milhões aplicados pela segunda colocada, a britânica BG Energy. Se contabilizados os investimentos dos parceiros Total, BP, BG, Petrogal, Statoil, QGEP e Cowan, o investimento só em bônus soma R$ 1,46 bilhão, ou 51% do total registrado no leilão.
Dessa vez, ao contrário das outras participações em que era a operadora dos consórcios, a Petrobras demonstrou que pode estar enfrentando restrições de pessoal, já que tem um bilionário investimento em vários projetos simultâneos para ampliar sua produção, inclusive no pré-sal, e entrou apenas como investidora das áreas. A estatal é operadora em apenas 12 das 34 áreas.
Para a analista Paula Kovarsky, do Itaú BBA, mesmo preferindo na maioria dos casos uma estratégia de se associar, a estatal brasileira acabou apresentando um apetite maior do que se imaginava. A análise sobrepõe-se ao pensamento generalizado, logo após os leilões de terça-feira, de que a empresa do governo brasileiro está se resguardando para o leilão do pré-sal marcado para novembro.
A Petrobras terá, obrigatoriamente, uma participação mínima de 30% em todos os consórcios que irão disputar áreas de potencial gigantesco no pré-sal sob o regime de partilha de produção, da qual a presença da estatal é compulsória. A impressão é de mais pressão sobre o caixa devido à expectativa de bônus bilionários, o que é contestado por Marco Antônio Almeida, secretário executivo de Petróleo, Gás e Combustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME).
Em entrevista no dia do leilão, Almeida afastou a possibilidade de que algum participante do leilão de partilha, como uma estatal de país com grande demanda por petróleo, por exemplo, faça oferta que possa dificultar a situação financeira da Petrobras.
“Isso não vai acontecer. A lei estabelece que quem define o bônus é o governo. O bônus é fixo, não é algo que faça parte do processo licitatório. A lei prevê que quem ganha a licitação é quem oferece o maior excedente em óleo”, disse Almeida, que participou da abertura da rodada.
Já a BG, segunda no ranking dos maiores investidores na disputa desta semana, tinha muitos motivos para comemorar. Vencedora em dez blocos, sendo seis sozinha e quatro como operadora, a britânica estimou que irá investir aproximadamente R$ 700 milhões em cinco anos na campanha exploratória das áreas conquistadas. “Fica claro que estamos vendo o Brasil não apenas como o pré-sal”, disse Nelson Silva, presidente da BG Energy. Foi a primeira vez que a empresa venceu licitações em parcerias com a Petrobras na condição de operadora. Nas quatro áreas vencidas em consórcio, a BG tem 50% dos direitos. A Petrobras tem 40% e a Petrogal, 10%.
A OGX ficou em terceiro lugar. Ela fez parcerias com a Total, QGEP e também com a Exxon Mobil, maior empresa de petróleo do mundo entre as de capital aberto que fez seu retorno à exploração no Brasil. A última área adquirida pela Exxon foi em 2001, quando comprou o bloco BM-S-22, no pré-sal de Santos, que foi devolvido depois de ter encontrados poços secos ou subcomerciais.
A OGX se comprometeu com investimentos de R$ 376 milhões nos 13 blocos nos quais saiu vitoriosa, de um total de 33 que disputou. Desses blocos, sete foram em águas profundas da chamada Margem Equatorial (Foz do Amazonas e Barreirinhas), a região mais disputada devido a descobertas recentes em áreas similares na Guiana e na África Ocidental.
O mercado não viu com os mesmos bons olhos a performance da empresa de Eike Batista, que atravessa um período de desconfiança resultante da sua performance operacional recente. Relatório dos analistas do banco Credit Suisse considerou “desejável” o esforço da empresa para fortalecer seu portfólio de áreas exploratórias.
Mas o banco ressalvou que a obrigação de pagar os R$ 376 milhões à ANP até agosto e o fato de que o dinheiro da venda do campo de Tubarão Martelo para a Petronas só virá no fim do ano, vão pressionar o caixa da empresa e podem forçá-la a exercer o direito de opção de R$ 1 bilhão que tem contra a controladora EBX, de Eike Batista.
Paula, analista do Itaú BBA, entende a intenção da empresa de diversificar seu portfólio, mas manifesta preocupação sobre o efeito dos elevados dispêndios sobre o balanço da OGX. A Total, a BP e a Statoil ocuparam, respectivamente, o quarto, o quinto e o sexto lugar entre os maiores investidores. Junto com a BG, elas foram as maiores vencedoras entre as grandes petroleiras internacionais. “O Brasil é um dos principais ativos do mundo em exploração e produção de petróleo. Temos posição forte no país com o projeto de Peregrino e queremos aumentar nossa posição”, disse Thore Kristiansen, presidente da Statoil Brasil.
Também entre as estrelas internacionais do setor estão algumas perdedoras do primeiro leilão importante de áreas para exploração no Brasil desde 2007. A Shell disputou seis blocos e perdeu todos. Em nota, a empresa disse que apresentou propostas “compatíveis” com suas avaliações. “Ao mesmo tempo que estamos desapontados por não termos obtido sucesso nessa rodada, reforçamos que temos no país um portfólio de ativos em produção e desenvolvimento que demanda altos investimentos”, acrescentou a empresa.
ConocoPhillips, Petronas e Repsol Sinopec participaram, sem sucesso, e a Chevron teve participação discreta.
A estreia da Ouro Preto Óleo e Gás deixou satisfeito o presidente da companhia, Rodolfo Landim.“Estamos satisfeitos com o resultado e continuamos olhando outras oportunidades, inclusive de farm-out”, disse. A Ouro Preto investiu R$ 14,8 milhões e levou dois blocos em terra e um bloco no mar.