A indústria fornecedora de bens e serviços para o setor de petróleo e gás recebeu com um misto de otimismo e cautela as regras para o primeiro leilão de partilha da produção no pré-sal. Os estaleiros estão otimistas com a possibilidade de que o campo de Libra garanta a ocupação das instalações de construção naval em horizonte além de 2020. Mas segmentos da indústria, como o de máquinas e de eletroeletrônicos, consideram que será preciso esperar a definição dos projetos e dos financiamentos das plataformas que serão usadas nesse megacampo, o maior do pré-sal, para saber se a indústria nacional poderá ter maior participação nas encomendas de Libra.
“Temos esperança de aumentar a participação da indústria eletroeletrônica nos projetos do regime de concessão, mas também naqueles relacionados à partilha da produção, como é o caso do campo de Libra”, disse Paulo Sérgio Galvão, coordenador da área de óleo e gás da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Ele afirmou que o setor fornece cinco sistemas para a indústria de petróleo e gás: automação, instrumentação e controle, medição fiscal, sistemas elétricos e de telecomunicação.
“Até agora, porém, fornecemos pouco em relação ao valor total dos projetos, porque o cálculo do conteúdo local vinha sendo feito em cima do valor total do empreendimento. No caso de uma plataforma, a participação do setor é 2% ou 3% do valor total”, disse Galvão. Ele afirmou que as compras que vão começar agora, relacionadas à 7ª rodada do regime de concessão, terão que comprovar o conteúdo local por sistemas de famílias de produtos, além do conteúdo total do empreendimento. A sistemática, extensiva à partilha, abre, segundo ele, a perspectiva de uma maior participação da indústria nacional no fornecimento de produtos para as plataformas.
A Abinee e a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) avaliam que um fator que tem limitado a participação da indústria nacional no setor de petróleo é a decisão dos construtores das plataformas, contratados pela Petrobras, de negociar pacotes fechados de equipamentos no exterior associados a créditos de agências dos países fornecedores.
Alberto Machado, diretor-executivo de petróleo e gás da Abimaq, disse que a participação da indústria em Libra vai depender do tipo de tecnologia e do financiamento para a construção dos equipamentos. “A partir desses fatores, a participação da indústria pode se tornar mais fácil ou mais difícil.” Ele afirmou que é importante que as informações sobre as encomendas cheguem com tempo hábil para a indústria poder investir e produzir os bens.
A minuta do contrato do primeiro leilão da partilha detalhou os percentuais de conteúdo local exigidos por subsistemas nas fases de exploração e de desenvolvimento da produção. Mas para Machado será preciso cruzar essas informações com a cartilha de conteúdo local da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para ter mais certeza sobre as oportunidades para a indústria. Fonte do setor manifestou preocupação de que o conteúdo local não seja transformado em reserva de mercado.
Augusto Mendonça, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav), avaliou que os percentuais de conteúdo local definidos nas minutas do contrato e do edital do leilão de Libra vão garantir a continuidade da ocupação dos estaleiros além de 2020. “Um projeto desse tamanho, como o campo de Libra, vai garantir uma continuidade importante [de encomendas] para o mercado nacional”, disse Mendonça. “O setor [da construção naval e offshore] não vai ser um gargalo”, afirmou. Uma plataforma leva, em média, quatro anos para ser construída.
“A construção das plataformas para Libra pode começar em 2016, quando parte dos estaleiros vai iniciar uma fase de declínio na carteira atual de encomendas”, disse Mendonça. Dados da Abenav mostram que os estaleiros nacionais têm em carteira a construção de 30 sondas de perfuração para a empresa Sete Brasil. Essas unidades têm previsão de começar a ser entregues em 2015 com a última unidade sendo concluída em 2020. Há ainda 18 navios-plataforma de produção para a Petrobras, com contratos de entrega até 2017.