A extração de petróleo da camada de pré-sal abre oportunidades imensas para a indústria do setor em função dos fabulosos investimentos que serão realizados pela Petrobras e companhias privadas. Mas não só: amplia o campo de interesse de investidores e fornecedores de toda a cadeia produtiva ligada ao segmento de petróleo e gás, que têm planos de se estabelecer no país com estratégias de longo prazo.
O Brasil tem hoje uma produção de 2,2 milhões de barris de petróleo por dia. Daqui a dez anos, essa produção praticamente vai dobrar, chegando a 4,2 milhões de barris por dia. Só no Campo de Libra, na Bacia de Campos, que realizará o primeiro leilão do pré-sal, em outubro, estão prometidos investimentos da ordem de US$ 200 bilhões a US$ 300 bilhões. A previsão é que essa área gere uma produção de 1 milhão de barris por dia.
“Isso significa um conjunto de oportunidades extraordinárias para a indústria nacional e para os fornecedores de bens e equipamentos”, comenta Helder Queiroz Pinto Jr., diretor da Agência Nacional de Petróleo, que participou do painel “Pré-sal: A nova era do petróleo no Brasil”, durante o 14º Encontro Internacional de Energia, promovido pela Fiesp. “A perspectiva é muito alvissareira para a produção brasileira de petróleo e temos a chance de abrir as portas para a indústria nacional dentro do conceito de conteúdo local. Não podemos deixar de ter uma estratégia que favoreça a indústria nacional, pois isso representa a formação de recursos humanos, mais tecnologia e mais indústrias”, afirma.
Helicópteros não têm autonomia para chegar às plataformas que serão erguidas a 300 quilômetros da costa
Em sua opinião, o Brasil só tem a ganhar com a exploração do pré-sal. A indústria naval, por exemplo, tende a crescer, segundo Pinto Jr. Para o pré-sal, estão em construção 60 novos barcos de apoio, nos estaleiros recém-instalados no país, além de um conjunto de 28 sondas de perfuração – cada uma a um custo de R$ 1 bilhão. No horizonte até 2017, de acordo com o dirigente da ANP, a expectativa é de que seja investido um total de US$ 280 bilhões, entre recursos da Petrobras e de companhias privadas, dos quais, pelo menos US$ 195 bilhões na área de exploração e produção. Mais ainda: os investimentos em pesquisa e desenvolvimento na área de petróleo e gás, nos últimos anos, geraram um volume de recursos da ordem de US$ 3,7 bilhões. “Esperamos um salto importante para um patamar de US$ 14 bilhões até 2022”, diz Pinto Jr.
Para Armando Guedes, conselheiro do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), o maior desafio agora é como tornar palpável essa descoberta fantástica que não tem similar em nenhuma parte do mundo. “As reservas estão aí. São mais de 15 bilhões de barris de petróleo já descoberto, dos quais menos de 30% na camada do pré-sal estão em processo de licitação. O grande desafio é monetizar esse petróleo, é produzir o petróleo descoberto”, diz ele.
Há vários aspectos a ser equacionados – regulatórios, financeiros, tecnológicos, de recursos humanos e logísticos. Mas nada que impeça que a exploração e produção do petróleo já descoberto possam ser realizadas. No lado financeiro, explica Guedes, há um dado mundialmente aceito de que para desenvolver um campo de petróleo são necessários gastos de US$ 10 a 20 por barril. Ou seja, quando se fala de uma projeção de 18 a 30 bilhões de barris até a próxima década, os investimentos estariam na ordem de US$ 400 bilhões. “Temos que ter capacitação de buscar recursos externos para fazer esse desenvolvimento”, ressalta.
Capacitação tecnológica também está desenvolvida, indica Guedes, mas precisa ser melhorada em termos de menor custo e de maior segurança. Um exemplo dessa preocupação, adianta o executivo, é o volume de investimentos que vem sendo feito na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. “São mais de 200 empresas em processo de instalação e a expectativa é que a ilha se transforme em um hub de desenvolvimento tecnológico”, diz. Quanto aos recursos humanos, a previsão é de uma demanda de mais de 200 mil pessoas em vários níveis, médio, superior e pós-superior para atender a expansão da produção brasileira de petróleo. E no caso da logística, o Brasil talvez enfrente alguma dificuldade, assinala Guedes.“A demanda de transporte aéreo é imensa – os helicópteros atuais não têm autonomia para chegar às plataformas do pré-sal, que serão erguidas a 300 quilômetros da costa. Será preciso resolver questões de riscos ambientais, planos de contingencia, e a necessidade de ter plataformas automáticas. É até provável que tenhamos que construir ilhas artificiais no meio do caminho para acesso às plataformas”, observa.
Para Arthur Ramos, sócio da Booz Company, que também participou do painel, a discussão sobre o pré-sal deve percorrer toda a cadeia produtiva e a competitividade deve ser o foco, uma vez que esta é uma indústria geradora de muita renda. “Enseja um ciclo de desenvolvimento bastante forte para o setor. O esforço para viabilizar esta produção impacta uma ampla cadeia produtiva e um volume colossal de oportunidades”, afirma. “Mas é preciso que sejam concedidos incentivos adequados para reverter a situação atual em benefício do desenvolvimento da cadeia produtiva local”, indica.