O presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha, em entrevista para a revista TN Petróleo, apresenta a visão da construção naval sobre a importância da Petrobras que completa 60 anos.
A Petrobras representa o elemento de projeção internacional do Brasil nos mercados mundiais. O futuro percebido é de que essa projeção internacional que a Petrobras proporciona continue a representar benefícios ao país, às empresas e aos trabalhadores. A chamada indústria offshore, que os investimentos da Petrobras cria, colocou o Brasil na direção da nova fronteira de desenvolvimento que são as riquezas e desafios do mar. Estudos internacionais apontam que a indústria marítima será o novo foco de investimentos, com a expansão do transporte marítimo e o aumento da atividade de mineração, no subsolo marinho. Na Europa a indústria eólica offshore é uma realidade. O desenvolvimento e a atração dos investimentos mundiais futuro será, em grande, atrelado a projeção do poder através do mar. A produção de óleo e gás offshore é o principal fator impulsionador para a construção de um novo setor produtivo e uma nova categoria de profissionais altamente qualificados. A indústria da construção naval é um dos exemplos. Os planos e projetos apontam para uma continuada expansão da atividade de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para o segmento offshore, envolvendo universidades e centros de pesquisa em diversas regiões do país. A realidade clara é que a exploração econômica do mar precisa ser realizada em bases sustentáveis e ambientalmente seguras. Para superar esses desafios o engenho e a arte do brasileira continuará a ser convocada. Ilhas de produção serão projetadas e desenvolvidas. Sistemas de produção de petróleo e gás cada vez mais distantes da costa exigirão soluções inovadoras. Todo esse sistema movimenta uma rede de fornecedores locais e internacionais que terão colaboração cada vez mais estreita criando valor e oportunidades.
Os desafios diagnosticados são praticamente os mesmos em todos os países: desenvolvimento de novas tecnologias, inovação nos processos, qualificação de recursos humanos, marcos regulatórios apropriados, correlação realista entre impostos e produtividade. Existem questões que precisam ser mudadas, entre elas a guerra comercial nas fronteiras internacionais. A mudança é o ambiente cotidiano. Não existem cenário fixos, existem cenários possíveis. É isso que assistimos atualmente. Temas como o conteúdo local, por exemplo, recebem críticas típicas da batalha dos interesses comerciais. No entanto é necessária uma política, caso contrário uma oportunidade pode virar um problema político com a desaprovação da população. No Brasil a Petrobras executa uma política de Estado de conteúdo local para construir localmente capacidade produtiva de uma parte da sua demanda. É uma política sensata. A maioria dos países tem políticas parecidas. A tendência indica um futuro em que a tecnologia e a qualidade dos recursos humanos serão os elementos principais. A esses elementos o capital, o dinheiro dos investidores, recorrerá para realizar seus projetos.
A oportunidade oferecida pelas descobertas de petróleo no mar, na área de exploração econômica brasileira, tem um horizonte estimado em mais de 30 anos. A Bacia de Campos já tem 30 anos e grande parte da produção dos estaleiros é destinado para lá. Portanto, é necessário não confundir o planejamento das encomendas já dimensionadas, informadas pela Petrobras até 2020, da real dimensão da nova fronteira produtiva na Bacia e Santos e outras, na chamada camada pré-sal. Um planeta ávido por energia gera a demanda por equipamentos de produção offshore. As encomendas para o segmento offshore representam a maior parte do valor da produção, nos estaleiros mundiais. Essa é a realidade do mercado. Atualmente uma parte relevante da demanda da Petrobras por plataformas, sondas e navios de assentamento de dutos é atendida por estaleiros internacionais. Os estaleiros locais estão começando a atender uma parcela desta demanda. O estaleiro é um ativo produtivo de grande flexibilidade, capaz de construir plataformas e navios de diversos tipos. É uma indústria globalizada. No Brasil temos ao lado de grandes grupos empresariais brasileiros grandes grupo internacionais, sócios e controladores de estaleiros. Essas empresas não realizaram seus investimentos pensando em 2020. Estão vendo muito além. Atualmente, assistimos uma colaboração internacional inédita, cascos de plataformas convertidos em estaleiros internacionais são transportados ao Brasil para receber a integração com os módulos de processo. Estamos num cluster com a Coréia do Sul, China, Cingapura, Japão e com a Noruega, para citar alguns países. Esse sistema produtivo, que agrega capacidades produtivas e tecnológicas, tem diante de si as perspectivas de um mercado mundial, onde as demandas dos países africanos começam a surgir.
A cada ano a construção naval brasileira se torna mais competitiva. Realizamos em 10 anos o que muitos países levaram o dobro. A construção naval em todos os países onde existe é um projeto do Estado com apoio da sociedade. Para ela são direcionados incentivos, subsídios, recursos a fundo perdido para desenvolvimento de tecnologia e os governos pagam a formação de recursos humanos nos estaleiros, nas universidades e nas escolas técnicas. A construção naval brasileira está se desenvolvendo na direção certa. No final dos anos 90 a Petrobras tinha a preocupação de ficar totalmente dependente dos estaleiros internacionais. Atualmente já existe uma capacidade local capaz de atender uma demanda estratégica. Essas metas tem sido atingidas. Os desafios existem e devem ser superados. Hoje, já existe uma indústria naval local em condições de realizar parcerias internacionais, coisa que dez anos antes não havia. Os estaleiros precisam de ter continuidade nas encomendas e volume para realizar ganhos de escala na produção. Essa é a direção que estamos caminhando. Nesse caminho a presença da Petrobras deixa profunda marca. É uma empresa estruturante para os objetivos e desejos de todos os brasileiros.
Ariovaldo Rocha, presidente do SINAVAL