O Brasil vai leiloar o campo de Libra na próxima semana em um mês emblemático, quando completa 40 anos o primeiro choque do petróleo, como foi chamada crise iniciada pelo embargo promovido pelos países árabes, que quadruplicou o preço da commodity entre 17 de outubro de 1973 e março de 1974, levando o mundo a uma crise econômica. O Brasil importava 85% do consumo interno e o preço do barril subiu de US$ 2,90 para US$ 11,65. Hoje, com o pré-sal, o país está prestes a se tornar exportador.
Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Helder Queiroz, diz que, depois de 1973, o petróleo ganhou importância macroeconômica e geopolítica que não tinha antes. Muitos países fortemente dependentes dessa energia entraram em crise, com destaque para EUA, Europa e Japão.
“Para o Brasil foi um momento difícil. Hoje, a situação é completamente diferente. O Brasil vai se tornar exportador líquido relevante, com vendas da ordem de 1,5 milhão a 2 milhões de barris de petróleo em dez anos”, afirma Queiroz, que trabalhou com o argelino Sadek Boussena, então presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Queiroz observa que a situação do Brasil hoje difere do primeiro choque do petróleo, porque “estruturalmente” já é exportador líquido – foram 300 mil barris/dia em 2012 -, apesar de voltar a ter déficit este ano por causa da queda de produção da Petrobras.
A crise de 1973 foi desencadeada pela ajuda americana a Israel na guerra do Yom Kippur contra um dos seus maiores aliados hoje na região, a Arábia Saudita. Os novos preços do petróleo tornaram viável a exploração mais cara, ajudando a viabilizar novas fontes de energia e a exploração no mar, inclusive no Brasil. Naquele ano, o país intensificou a exploração offshore e em 1974 descobriu o primeiro campo na Bacia de Campos, Garoupa, com reservas de 100 milhões de barris. Nos anos seguintes foram descobertos Namorado e Enchova.
Outro estudioso do tema, Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, lembra dois importantes efeitos do primeiro choque do petróleo na economia brasileira: a permissão para empresas estrangeiras explorarem no Brasil por meio de contratos de risco (quem encontrasse óleo teria que vender para a Petrobras), o programa nuclear Brasil-Alemanha e o Pró-Álcool (Programa Nacional do Álcool).
O Pró-Álcool teve duas fases. Na primeira, foi autorizada a mistura do álcool anidro à gasolina. Na segunda fase, em 1979, foi criado o carro movido a álcool hidratado, após o segundo choque do petróleo, quando os aiatolás derrubaram o regime do xá do Irã, Reza Pahlevi, então principal aliado dos EUA na região. Os preços voltaram a disparar e, em reação, o governo americano elevou os juros. Em 1982, sem condições de honrar seus compromissos, o Brasil suspendeu os pagamentos da dívida externa.