As notícias já não eram boas para os estaleiros brasileiros, agora ficaram ainda piores. O Estaleiro Enseada reduziu a força de trabalho nas obras de conversão dos navios em FPSOs que estavam sendo feitos no Estaleiro Inhaúma, no Rio de Janeiro, e colocou 2 mil trabalhadores de férias, até que chegue a um novo acordo com a Petrobras. O Enseada fechou um contrato para converter quatro navios em plataformas a serem utilizados na Cessão Onerosa. Três embarcações foram mandadas para China e uma – a P-74 – estava sendo feito no Rio de Janeiro.
O Estaleiro Enseada divulgou um comunicado interno aos seus funcionários, que reproduzimos na íntegra:
“Prezados Integrantes,
A Indústria de Óleo e Gás vive uma crise sem precedentes que vem produzindo impactos diretos sobre toda cadeia de fornecedores nacionais e internacionais.
Em nosso contrato de conversão de FPSOs, performado pelo Estaleiro Inhaúma, as inúmeras alterações de escopo, bem como outros impactos negativos decorrentes de fatores externos ao contrato, tornaram inviável sua execução nas condições originalmente contratadas.
Com o objetivo de minimizar os impactos decorrentes das dificuldades enfrentadas e para que possamos voltar a ter indicadores aceitáveis para o nosso padrão de atuação industrial, a Enseada colocará cerca de 2.000 trabalhadores em gozo de férias a partir do dia 8/06.
O crédito do valor correspondente (incluído 1/3 sobre férias) estará disponível no dia 5/6, na conta corrente dos integrantes que entrarão em gozo de férias.
Temos buscado um diálogo constante e transparente com a Petrobras, com objetivo de readequar o escopo do contrato e estabelecer um equilíbrio econômico financeiro.
Acreditamos ser esta a melhor opção para o momento, enquanto o Enseada e a Petrobras dialogam para buscar uma solução para a situação atual.
Fernando Barbosa – Presidente da Enseada Indústria Naval”
O estaleiro de Inhaúma, antigo Ishibrás, com 320 mil m², chegou a ser o estaleiro com a segunda maior carteira de encomendas do mundo na construção de navios, em 1980. Ele retomou as atividades em agosto de 2012 e está terminando o FPSO P-74 (unidades flutuantes de produção, armazenamento e transferência de petróleo e gás). A plataforma P-74 será o primeiro FPSO destinado aos campos da Cessão Onerosa, no pré-sal da Bacia de Santos, e é resultado da conversão do navio Titan Seema. A embarcação era um cargueiro do tipo VLCC (Very Large Crude Carrier), termo que designa os navios petroleiros com capacidade de carga ente 200 e 320 mil toneladas de porte bruto.
A conversão inclui o reforço estrutural do casco; a construção de novos módulos de acomodação com capacidade para 110 pessoas; a substituição integral dos equipamentos originais; além da fabricação e instalação de 13 mil toneladas de estruturas novas necessárias para suporte dos módulos, das linhas de produção e do novo sistema de ancoragem, entre outros. Atualmente, a P-74 está no dique seco finalizando os serviços de conversão do casco. Após esta fase, ficará atracada no cais 1 para que sejam executadas as atividades de acabamento.
Além do FPSO, o empreendimento já tem programada também a conversão de outros três navios do tipo VLCC em três cascos de modelos FPSOs que vão operar no campo de Búzios, na área do pré-sal da Cessão Onerosa: P-75, P-76 e P-77. Cada uma das quatro plataformas encomendadas no estaleiro Inhaúma tem capacidade para produzir 150 mil barris de petróleo por dia. O conteúdo local previsto em contrato para cada um dos quatro cascos é de 70%.
Na Cessão Onerosa, implantada em 2010 com a assinatura do Novo Marco Regulatório do Petróleo, foi cedido onerosamente à Petrobras o direito de explorar e produzir petróleo e gás natural em áreas não licitadas do pré-sal, até o limite de cinco bilhões de barris de óleo equivalente. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou a contratação direta da Petrobras para produção do volume excedente aos 5 bilhões de barris, sob o regime de partilha, em quatro áreas do pré-sal – Búzios, Entorno de Iara, Florim e Nordeste de Tupi.
No início da noite, o Estaleiro Enseada divulgou uma nota assinada por Humberto Rangel, Diretor de Relações Institucionais e de Sustentabilidade da Enseada Indústria Naval, com o seguinte teor: “A Enseada Indústria Naval S.A. informa que colocou 2.000 trabalhadores do estaleiro Inhaúma em gozo de férias a partir do dia 8 de junho, correspondendo a cerca de 50% do efetivo desta unidade industrial, mantendo os demais trabalhadores atuando nas principais frentes de trabalho.
Esta decisão está inserida no contexto da crise da indústria brasileira de óleo e gás, com impactos diretos sobre toda a cadeia de fornecedores nacionais e internacionais, exigindo um replanejamento das atividades em continuidade no estaleiro.
A sólida relação comercial de mais de 30 anos existente entre os grupos empresariais que compõem a Enseada e a Petrobras faz com que reafirmemos aqui nosso compromisso com o desenvolvimento da indústria naval brasileira, notadamente com nossos clientes, integrantes, acionistas e comunidades onde estamos inseridos.”