BE Petróleo mapeia perspectivas de construção de módulos para os estaleiros brasileiros após novas regras de conteúdo local
Refletindo a redução das exigências de conteúdo local, a nova onda de contratações de FPSOs da Petrobras resultará num volume de obras menor no país, na comparação com as encomendas feitas nos últimos anos. A expectativa é que, no melhor dos cenários, as plataformas contratadas desde 2017 ou em processo de aquisição terão cinco módulos brasileiros não necessariamente integrados por aqui.
A última onda de FPSOs afretados teve, em média, de cinco a seis módulos fabricados no país, além da integração do topside realizada em estaleiros nacionais, como o Brasfels, em Angra dos Reis (RJ), e o Brasa/SBM, em Niterói (RJ).
Já eram volumes de obras muito inferiores na comparação com os FPSOs próprios da Petrobras: os seis replicantes (P-66 a P-71) e os quatro da cessão onerosa. Nesses casos, foram encomendados, em média, 16 ou 17 módulos por unidade a estaleiros e epecistas locais, além da integração e a construção/conversão dos cascos.
Boa parte dessas encomendas acabaram, contudo, transferidas para estaleiros asiáticos, em função de dificuldades financeiras enfrentadas pela engenharia brasileira, na esteira dos efeitos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Os últimos FPSOs contratados pela Petrobras foram os de Mero 1 (Guanabara) e Sépia (Carioca), com a Modec. No primeiro caso, a tendência é que apenas os skids para o módulo de tratamento de água que será construído na China sejam feitos no Brasil.
O que se diz no mercado é que o plano de execução das obras da Modec prevê um índice de conteúdo local ainda menor que o solicitado pela Petrobras, com a montagem dos módulos feita no país e a integração, na Ásia
“Se a Petrobras resolver pagar a multa sem mexer na tarifa da Modec, a segunda colocada no processo licitatório pode se sentir prejudicada”, comentou uma fonte do setor ouvida pela reportagem.
Procurada, a estatal informou que cabe ao afretador definir a estratégia construtiva do FPSO Guanabara, incluindo os módulos que serão fabricados no Brasil, observando os requisitos de conteúdo local acordados.
A companhia acrescentou que o contrato de afretamento da plataforma estabelece pagamento de multas por parte do afretador em caso de não cumprimento das exigências de nacionalização.
“Os compromissos de conteúdo local foram requisitos do processo de contratação, no qual a Modec ofereceu a melhor proposta. Nesse processo todos os proponentes tiveram acesso às mesmas informações para construírem suas propostas”, esclareceu a companhia, via assessoria de imprensa.
Já o FPSO Carioca terá os skids de recuperação de vapor e do sistema do flare fabricados e integrados pelo Brasfels, que foi contratado por US$ 70 milhões pela Modec para realizar os serviços.
O conteúdo local da unidade também deverá ficar abaixo dos índices estabelecidos no contrato da cessão onerosa e daqueles definidos após a aprovação do waiver de Libra, conforme publicado pela BE Petróleo no início deste ano.
Na ocasião, a Modec declarou que entende a importância da política de conteúdo local para o Brasil e que tem bastante experiência em trabalhar com fornecedores brasileiros.
“Continuamos comprometidos em trabalhar com esses fornecedores com o objetivo de seguir os termos dos contratos assinados em todos os nossos projetos”, disse, então, a companhia.
Búzios e Mero 2 com perspectivas melhores
Em vias de ter seu contrato de afretamento assinado com a Exmar, o FPSO de Búzios V já traz uma perspectiva mais animadora. Na licitação da plataforma, os participantes apresentaram dois envelopes, um com conteúdo local reduzido e outro, ampliado. Como a proposta com maior nível de nacionalização teria ficado dentro do orçamento da Petrobras, a expectativa é que cerca de cinco módulos da unidade sejam feitos no país, com o local da integração ficando a critério da afretadora.
Parte da engenharia da plataforma deverá ficar a cargo da francesa Doris, se, de fato, for assinado o contrato com a Exmar.
O FPSO de Mero 2 deve seguir lógica semelhante à do equipamento destinado ao campo de Búzios V. Em andamento, a licitação também prevê a entrega de ofertas com índices menores e maiores de conteúdo local.
A incógnita fica por conta dos FPSOs de Parque das Baleias e Marlim 1 e 2, cujas contratações estão em curso. Isso porque as novas plataformas serão instaladas em ativos cujos contratos de concessão não contêm cláusulas de conteúdo local.
Apesar disso, a Petrobras afirma que a execução de obras no Brasil é uma possibilidade. “As plataformas poderão ter parte de sua construção realizada em estaleiros nacionais, considerando os compromissos competitivos que viabilizem a produção segundo o cronograma da Petrobras”, disse a companhia.
Modalidade de contratação
A próxima licitação a ser lançada será para o afretamento do FPSO de Itapu, que terá capacidade para produzir 120 mil bopd. Fontes acreditam que a Petrobras poderá optar, como alternativa ao afretamento, pelas modalidades contratuais de EPC (Engenharia, Suprimentos e Construção), BOT (Built-Operate-Transfer) ou BOOT (Built-Operate-Own-and Transfer).
Com isso, a companhia estaria se resguardando de eventual perda de competitividade na concorrência, já que os principais players estão envolvidos nas demais licitações promovidas pela estatal.
“Se a Petrobras entrar no mercado com mais um afretamento, talvez fiquem só um ou dois players em Itapu”, prevê um executivo do setor.
Essas alternativas já estariam, inclusive, em estudo pelo consórcio de Libra para a contratação dos FPSOs de Mero 3 em diante.
Competição acirrada
Além da Modec, companhias como a SBM, Teekay, Misc (Petronas) e a malaia Yinson estão cotando no mercado para preparar suas ofertas para Itapu.
Entre os estaleiros consultados está o EBR (Estaleiros do Brasil). Localizado em José do Norte (RS), ele foi responsável pela engenharia, construção, montagem, integração e comissionamento do topside e conclusão da conversão do casco do FPSO P-74, que começou a produzir este ano no campo de Búzios, na área da cessão onerosa.
Para o gerente comercial do estaleiro, Luiz Camargo, o aditamento feito pela ANP revisando os índices de conteúdo local mínimo dos contratos em vigor para 40%, trará um importante volume de trabalho para o mercado de construção offshore brasileiro.
“Por outro lado, há uma oferta de capacidade instalada dos estaleiros acima do volume de demanda prevista para os próximos anos, e acreditamos que apenas estaleiros com alta competitividade e comprovada capacidade de entrega dos projetos no prazo e no custo contratado terão espaço nas futuras concorrências”, ressalva.
Segundo o executivo, as novas modalidades de contratação em estudo pela Petrobras poderão dar maior flexibilidade para aumento do escopo a ser executado no Brasil.
Com o fim iminente da construção da P-76, no Pontal do Paraná, a Techint corre contra o tempo para buscar novos contratos de construção offshore.
Na visão do diretor Comercial da empresa, Luís Guilherme de Sá, a próxima oportunidade factível de trazer obras para o Brasil é Mero 2, que, nos seus cálculos, pode ter até dez módulos feitos no país.
“A discussão não pode se resumir a quanto custa construir aqui ou lá fora. É preciso ter uma visão estratégica de país”, assinalou o executivo em entrevista à BE Petróleo em outubro, durante a Rio Oil and Gas 2018.
Embora não tenha sido originalmente projetado para construir plataformas, o Vard Promar, em Pernambuco, não descarta a possibilidade de entrar no mercado de construção de módulos.
Lamentando que o governo tenha flexibilizado as regras de conteúdo local “exatamente no momento em que os estaleiros locais dão prova da capacidade de construir de forma competitiva”, o vice-presidente Sênior do estaleiro, Guilherme Coelho, prospecta oportunidades em outros segmentos.
“Estamos participando do short-list da licitação de corvetas da Marinha e construindo um píer flutuante para a Jamaica”.