O novo presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, prometeu durante seu discurso de posse que irá trabalhar para deixar a empresa mais forte, com visão de futuro, respeitando o meio ambiente e a sociedade, além de buscar o equilíbrio entre os interesses de consumidores de derivados e acionistas da estatal. A indústria reagiu bem, de maneira geral, aos recados dados pelo novo líder da petroleira. A expectativa é positiva por conta da formação de Silva e Luna e de seu histórico recente à frente da Itaipu Binacional. Hoje (20), vamos dividir com nossos leitores algumas das impressões e expectativas de entidades ligadas ao setor de óleo e gás sobre o novo presidente da Petrobras. Pelo lado do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) e da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o pedido é que a estatal volte a priorizar investimentos no Brasil, trazendo para o país as grandes obras. Já a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (ABESPetro) e a Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) fazem votos para que a empresa siga dando previsibilidade e continuidade em seu plano de negócios. Por fim, ouvimos também o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), que avalia que o novo presidente tende a continuar com a atual política de preços. Enquanto isso, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) sugere que Silva e Luna repense a fórmula de formação de preços de derivados e reveja sua estratégia de desinvestimentos. A entidade sindical também destacou que o novo presidente abriu a expectativa de maior diálogo com os trabalhadores e o movimento sindical.
Primeiro, vamos começar com as perspectivas do presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha:
A indústria brasileira da Construção Naval e Offshore está alijada das contratações das grandes obras de construção de plataformas e FPSOs há alguns anos, desde o governo Michel Temer, porque a Petrobras adotou a alternativa de encomendar seus ativos em estaleiros da Ásia, principalmente da China, nas duas administrações anteriores ao Presidente que tomou ontem(19). O SINAVAL tem se posicionado contra essas construções em estaleiros chineses contratados para fornecer à Petrobras diretamente ou por intermédio de EPCistas.
Esses modelos de contratação prejudicam os estaleiros brasileiros e a indústria fornecedora, exportando empregos e invalidando todos os esforços e investimentos realizados para atender à demanda da Petrobras, inclusive de navios petroleiros, gaseiros e de apoio marítimo às plataformas. Essa preferência por encomendas na Ásia tem como base e pretexto a premissa de que os produtos brasileiros são mais caros que os asiáticos, o que não é possível resolver sem levar em consideração o custo Brasil.
Já externamos nossas preocupações ao Presidente da República quanto a esse estado de coisas e aos prejuízos causados à indústria pela redução drástica do conteúdo local nos projetos de exploração e desenvolvimento dos campos de petróleo e gás. Estamos na expectativa de sermos convocados pelo Governo para discussão de uma política de Estado que contemple corretamente a Indústria Naval, que é incentivada por todos os países importantes por seu caráter de indústria estratégica e multiplicadora de empregos e de renda nesses países.
Não podemos mais assistir sem reação ao desmonte da indústria brasileira. A Petrobras sempre cumpriu seu papel de indutora do desenvolvimento brasileiro, mas afastou-se desse nobre objetivo nas duas últimas administrações.
Agora, com a posse ontem de um novo Presidente com um passado de estímulo aos ideais nacionais, temos esperanças de voltar a dialogar com a Petrobras e retomarmos o progresso que nosso segmento industrial experimentou desde o início do século até o final de 2014. Note-se que a repercussão desses empregos nos estaleiros fez com que fosse atingido em dezembro de 2014 um número total de empregos na indústria de aproximadamente 480 mil, quando se considera também a indústria fornecedora de bens e serviços aos estaleiros.
Agora, vejamos as considerações do presidente da Abespetro, Adyr Tourinho:
A ABESPetro, como primeiro elo da cadeia de fornecedores de bens e serviços da indústria de E&P, sempre manteve um relacionamento muito próximo à Petrobras.
Temos a certeza que tanto o novo Presidente quanto os novos Diretores irão dar continuidade a essa parceria com o objetivo de manter o setor competitivo em escala global, de forma a seguir com o desenvolvimento do portfólio desafiador de projetos de seu plano de investimentos.
A expectativa da indústria é a de que a Petrobras siga dando previsibilidade e continuidade em seu plano de negócios, o que foi ratificado na cerimônia de posse. Somos otimistas e deixamos aqui nossos votos de sucesso ao novo Presidente da Petrobras.
Chegou a vez de conhecer a opinião do diretor-executivo petróleo, gás, bioenergia e petroquímica da Abimaq, Alberto Machado:
Levando em conta a sua formação de estrategista, o general Joaquim Silva e Luna deve ter uma visão mais ampla do que, simplesmente, olhar para o acionista. O novo presidente deve ter a visão de aproveitar as demandas e gerar mercado no Brasil para os próprios produtos da Petrobras. O foco deve ser no nosso país.
Temos que nos lembrar que o povo brasileiro é o principal acionista da Petrobras. O valor que a empresa pode agregar ao povo brasileiro é, justamente, gerar emprego e renda no país. Isto é, fazer um esforço para obter competitividade aqui, ao invés de simplesmente direcionar para o exterior as encomendas de engenharia, máquinas e equipamentos.
O presidente falou em seu discurso sobre desenvolver a força de trabalho. Tão importante como os empregados da Petrobras são os seus fornecedores. O fornecedor é um parceiro. São necessárias as condições para que essa parceria com os fornecedores se torne efetiva, com benefícios para a Petrobras, a indústria nacional e a população brasileira.
O diretor de Relações Institucionais da Abemi, Telmo Ghiorzi, também fez uma breve declaração sobre suas expectativas em relação ao novo presidente da Petrobras. Ele acredita que a troca no comando manterá a empresa em uma rota de crescimento:
A Petrobras conta com governança e cultura organizacional que asseguram crescimento sustentável há muitas décadas. A ABEMI acredita que a mudança recente contribuirá para manter a direção de crescimento, de investimentos e de estímulo ao desenvolvimento da indústria e da economia do país.
Saindo um pouco da visão da indústria, vejamos o que os empregados da Petrobras têm a dizer. Conheça as perspectivas do coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacellar:
O discurso do novo presidente da Petrobras abriu a expectativa de maior diálogo da empresa com os trabalhadores e o movimento sindical. É necessário um canal direto de comunicação. As mudanças no mundo do trabalho requerem negociações difíceis, mas abertas entre as partes. Temos propostas a serem discutidas com o general Joaquim Silva e Luna. A FUP vai cumprir o seu papel e está solicitando reunião com o novo presidente para tratar dessas propostas.
Nessa conversa, o tema dos preços dos derivados é central e uma nova política é necessária. Nos últimos anos, os preços dos derivados estão subindo muito acima do aumento da inflação e da renda do brasileiro. É preciso mudar a política de preços e levar em consideração outros fatores além da paridade de importação, como os custos de produção, por exemplo. Isso é possível e não traz prejuízos para a Petrobras;
Em seu discurso, o general Silva e Luna falou em investimentos e em fazer a Petrobras mais forte. A Petrobras precisa voltar a investir no Brasil. Os investimentos da empresa em 2020 foram os mais baixos dos últimos 20 anos, 50% abaixo do realizado em 2016, que já era bem abaixo dos anos anteriores. Estes investimentos geram empregos e renda e desenvolvimento. Precisamos retomar os índices de conteúdo local, que caíram de 65%, em média, para 25%.
Para se fortalecer, importante também é não vender mais ativos. A Petrobras precisa ser integrada para sofrer menos impactos com a flutuação do preço do barril de petróleo e do dólar. Assim, ela gera mais lucro para os acionistas e induz o desenvolvimento do país. Isso passa, necessariamente, pela suspensão do processo de venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia.
Para encerrar, veremos o que diz o Coordenador técnico do Ineep, William Nozaki:
A gestão de Silva e Luna à frente da Petrobras deve ser marcada pela tentativa de distensionar os conflitos internos entre governo e acionistas. A favor desse objetivo pesam um Conselho de Administração e uma Direção Executiva compostos por gestores cuja trajetória está mais ligada à indústria petrolífera e à Petrobras do que ao mercado financeiro e de capitais.
Contra esse objetivo pesam a manutenção do atual plano estratégico e das políticas de desinvestimentos e de preços dos combustíveis, pois, para além de vontade política e disposição para o diálogo, as crises e a descoordenações no segmento de abastecimento são consequências das atuais diretrizes.
Fonte: Petronotícias – Davi de Souza