Para presidente do estaleiro, armadores estão começando a enxergar alternativas de reparo no Brasil. Estratégia, segundo Nicole Terpins, é mesclar reparos com outras atividades como a construção e desmantelamento, mantendo olhar atento a outras oportunidades, como projetos da Marinha.
O Estaleiro Atlântico Sul (PE) receberá três navios para reparos. A presidente do EAS, Nicole Terpins, contou que dois desses navios são docagem de classe e um navio está fazendo reparo de urgência. Para Nicole, os novos reparos abrem perspectiva positiva para o estaleiro e sinalizam um olhar diferenciado dos donos de navios para possibilidade de realizar mais docagens no Brasil. Ela disse que o estaleiro também aposta nesse mercado, apesar de os valores dessa atividade não gerarem os memos impactos de geração de emprego e receitas que a construção. A estratégia, segundo Nicole, é mesclar com outras atividades como a construção e o desmantelamento.
“Os armadores estão começando a enxergar alternativas de reparo no Brasil. Outros estaleiros que eram voltados para construção naval começaram a entrar nesse mercado. E acredito que isso tende a mudar tendência que armadores tinham para levar embarcações para o exterior”, comentou Nicole, na última segunda-feira (26), durante o 28º Congresso Internacional de Transporte Aquaviário, Construção Naval e Offshore da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena).
Nicole também destacou a sinalização de novas aquisições que a Marinha do Brasil tem feito. Ela lembrou que projetos, como do navio de apoio antártico (NApAnt) têm suporte da capitalização da Emgepron. A expectativa é que, em 2021 ou em breve, haja outras licitações, até mesmo de navios hidrográficos. Outro aspecto positivo são os índices de conteúdo local previstos para os novos meios navais. “Estamos vendo licitações com 40% de conteúdo local. A Marinha tem sido fiel ao propósito de desenvolvimento da indústria”, avaliou.
Ela observa que a proteção bandeira brasileira na cabotagem, antes atrelada a regras de tonelagem das embarcações nacionais, corre risco de ser extinta ou severamente mitigada através do BR do Mar (PL 4199/2020). “O programa amplia base para afretamento de embarcações estrangeiras. Com isso, nos próximos três anos, dificilmente teremos encomendas para construção de novas embarcações para mercado de cabotagem, principalmente de contêiner. No primeiro momento, o mercado já deve ficar saturado com a vinda dessas embarcações estrangeiras para o Brasil”, analisou.
A avaliação é que o financiamento com recursos do Fundo da Marinha Mercante (FMM) continuará disponível, mas sendo acessado cada vez com mais dificuldade, sobretudo devido às garantias mais rígidas requeridas pelos bancos de fomento. Nicole lembrou que, em 2019, o governo federal zerou imposto de importação sobre embarcações de cabotagem. Ela disse que havia expectativa que essas embarcações fossem construídas no Brasil em razão do saldo da conta vinculada aos armadores do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), porém isso passou a ser realidade mais distante com as mudanças regulatórias.
Outros fatores que pesariam a favor seriam a perspectiva de crescimento da cabotagem a partir do BR do Mar com incentivos à realização de reparos em estaleiros brasileiros, bem como a valorização do câmbio encarecendo o transporte das embarcações para fora e contratação de serviços no exterior. “No momento de revitalização da indústria, houve direcionamento grande das encomendas para estaleiros nacionais, vários construídos com perspectiva de trazer essa demanda que hoje, embora exista, é direcionada para estaleiros asiáticos”, afirmou.