Nas últimas semanas, a campanha às eleições da Firjan ganhou força e se polarizou com os dois pré-candidatos percorrendo o Estado do Rio para se reunir com representantes dos sindicatos, a base da federação. Ontem, Gouvêa Vieira, integrante de uma das famílias que controlaram o Grupo Ipiranga, enviou carta aos integrantes do Sistema Firjan confirmando sua candidatura a um sétimo mandato consecutivo. Ele comanda a Firjan há 18 anos, desde 1995, e poderá completar 21 anos à frente da instituição se for novamente reconduzido. O atual mandato vence em 14 de outubro e quem ganhar assume no dia seguinte para comandar a Firjan por três anos. Procurado, Gouvêa Vieira não quis falar.
Na carta, Gouvêa Vieira disse que, após percorrer todo o Estado e dialogar com os associados, conta com o apoio “expresso e por escrito” de mais de 90% dos sindicatos ligados à Firjan. A federação tem 103 sindicatos e, para vencer a eleição, é preciso ter, pelo menos, o apoio de 53 deles. Até hoje as eleições na entidade foram marcadas pela existência de chapa única. Na última eleição, em 2010, Gouvêa Vieira teve o apoio maciço dos sindicatos. Mas a situação mudou.
“Nós também visitamos todo o Estado, conversamos com todo mundo, e verificamos que há 90% de insatisfação com ele [Gouvêa Vieira]”, afirmou Sérgio Bacci, aliado de Rocha. Em entrevista ao Valor, Rocha disse que sua candidatura atende a um pleito de setores descontentes com a federação. “A Firjan não ouve os sindicatos.” Rocha disse contar com o apoio de segmentos de setores como vestuário, metalmecânico, têxtil e móveis. “Tivemos sucesso com o Sinaval [o sindicato da construção naval] o que nos capacita a levar essa experiência para todas as indústrias fluminenses”, disse Rocha.
Ele vem intensificando a campanha e negocia apoios de mais sindicatos na capital e no interior do Estado. Uma sociedade de propósito específico (SPE) foi criada para captar recursos para a campanha de Rocha, que está apresentando suas propostas à bancada fluminense no Congresso Nacional e também a dirigentes políticos nos âmbitos estadual e municipal. Entre suas propostas, está a participação “vigorosa”dos sindicatos nas decisões da Firjan e uma gestão participativa. Defende ainda o fim dos mandatos ilimitados com apenas uma reeleição.
Rocha tem bom trânsito na capital federal, mas isso nem sempre é bem-visto no Rio. “Ariovaldo [Rocha] fica muito em Brasília. É uma opção, mas não vejo razão para mudança”, disse Luiz Melo, do sindicato da panificação do Sul Fluminense, que apoia Gouvêa Vieira. Mas na região há dissidências: “Existe insatisfação com o modelo da Firjan, que não aplica recursos nas principais necessidades da indústria. Defendemos uma mudança estrutural”, disse Henrique Carneiro, presidente do Metalsul. Em outras regiões, como na Serra, também há posições divergentes.
Em maio, no lançamento de navio de Transpetro, em Pernambuco, Rocha foi citado em discurso pela presidente Dilma Rousseff. Na sala de reuniões, no Sinaval, há foto dele com Lula. Pessoas próximas de Rocha garantem, no entanto, que o dirigente circula por um espectro político mais amplo. “É inadequado qualificar a eleição na Firjan como uma disputa entre PT e PSDB”, disse fonte que preferiu não se identificar. A afirmação faz referência ao bom relacionamento que Gouvêa Vieira teve com Fernando Henrique Cardoso quando o tucano ocupou a Presidência da República. Mas Gouvêa Vieira também se relacionou bem com Lula e tem relação cordial com Dilma Rousseff. “A casa [Firjan] é apartidária”, disse outra fonte.
Aliados de Rocha afirmam que o papel de um dirigente como o presidente da Firjan é batalhar por uma política industrial para o Estado do Rio. Um executivo afirmou que, se a chapa de oposição for eleita, baterá à porta de quem estiver no poder para buscar apoios, independente de colorações partidárias. Quando a oposição lançou a campanha, pessoas próximas da Firjan colocaram em dúvida a capacidade de Rocha de conseguir os apoios necessários para formar a chapa. O estatuto da Firjan determina que o presidente da entidade tem que convocar as eleições em prazo entre 60 e 30 dias antes do fim do mandato, que termina em 14 de outubro. As indicações são de que Gouvêa Vieira publicará em agosto o edital da eleição.
Para registrar a chapa, é preciso contar com 47 nomes. Se for considerada a inscrição na chapa do titular e do suplente de um mesmo sindicato, basta ter o apoio de 24 sindicatos – de um total de 103. Mas para ganhar a eleição é preciso ter o apoio de pelo menos 53 sindicatos.