Repetindo a estratégia de 2013, a Petrobras vai outra vez ao mercado para afretar até duas novas unidades de produção para o cluster do pré-sal da Bacia de Santos, na tentativa de minimizar o impacto causado pelo atraso de pelo menos um ano nas obras de construção dos 12 FPSOS próprios (oito replicantes e quatro da cessão onerosa), que, de acordo com o Plano de Negócios 2014-2018, deveriam entrar em operação no período 2016-2020. A estratégia vem sendo analisada pela alta cúpula da petroleira e está sendo pensada para compensar o problema das plataformas P-72 e P-73, inicialmente projetadas para operar em 2018, nas áreas de NE de Tupi e Entorno de Iara, mas que até o momento não tiveram o serviço de integração contratado.
A proposta avalia o afretamento, no segundo semestre, de uma ou duas unidades com capacidade de produção de 150 mil barris/dia de óleo, mas o mais provável é que a petroleira afrete dois FPSOs. A estratégia de “socorro” está sendo analisada pela área de E&P, que conta com o suporte da Engenharia, responsável pela condução das obras de construção dos FPSOs próprios.
Uma das alternativas em análise é fazer a integração a partir dos cascos que estão sendo construídos pela Engevix, proposta que tende a ser recebida com certa resistência pelas afretadoras. Outra opção seria deixar a escolha do casco a cargo do afretador.
Diante do atraso em escala das 12 unidades próprias, é praticamente certo que a Petrobras redistribua a locação geral destas unidades, a exemplo do que já fez no passado. Com isso, sua meta de produzir 4,2 milhões de barris/dia em 2020 deve escorregar por um ou dois anos.
Seguindo o padrão das licitações de afretamento de unidades de produção, todo o trabalho de integração dos FPSOs teria de ser executado no Brasil.
O resultado prático do projeto evidencia que a estratégia de construir toda as unidades próprias no Brasil mostrou-se no mínimo pouco eficiente. A curva de aprendizado de alguns dos empreiteiros envolvidos no projeto demorou a crescer e o tão propagado ganho pela repetitividade do serviço ainda não aconteceu, mesmo com os primeiros contratos tendo sido assinados há cerca de quatro anos. No fim das contas, pelo menos dois dos 12 cascos serão feitos integralmente no exterior, na tentativa de conter o atraso em escala.
Lista de ações
Preocupada com o cenário e pressionada também pela necessidade de assegurar confiabilidade ao trabalho de revisão das metas e indicadores de seu novo Plano de Negócios voltado ao período 2015-2019, a nova diretoria da Petrobras efetuou uma verificação minuciosa na situação das obras de cada uma das unidades para traçar novas estratégias de ação.
A tarefa é difícil e exigirá uma dose extra de habilidade e malabarismo, tendo em vista o grande número de empresas envolvidas e o andamento dos contratos.
Entre as prioridades imediatas está a tentativa de reverter o cancelamento do contrato de integração e construção de 19 módulos da P-75 e P-77, comunicado pelo consórcio Queiroz Galvão/Iesa, em meados de fevereiro. A Petrobras analisa alternativas contratuais que assegurem a retomada dos trabalhos no estaleiro Honório Bicalho, em Rio Grande (RS). O prazo estabelecido para as negociações expira no início de maio.
O consórcio QGI pede reposições contratuais decorrentes de mudanças no escopo do contrato, mas a Petrobras se recusava a formalizar o aditivo já que as duas empresas estão na lista de bloqueio cautelar por conta das denúncias da operação Lava Jato.
Além das questões financeiras, a QGI reivindica a extensão de prazo contratual em seis meses.
Caso as negociações sejam bem-sucedidas, o consórcio terá de retomar a construção dos módulos no exterior e iniciar de imediato os primeiros trabalhos no Brasil.
Seguindo a estratégia de dar continuidade aos trabalhos já contratados, a Petrobras negocia com o Jurong o não cancelamento do contrato de integração P-68 e P-71, que inclui também a construção dos módulos elétricos e de utilidades. O contrato tem atraso expressivo e, desde janeiro de 2014, sobrevive sob a ameaça de rescisão.
As negociações também têm prazo limite até o início de maio. Caso não chegue a um consenso com o Jurong e com o consórcio QGI, a Petrobras repetirá a mesma estratégia adotada no caso da Iesa: lançará duas novas licitações internacionais, com previsão de ida ao mercado no início de junho.
Se o cancelamento do contrato do Jurong for inevitável, uma das possibilidades em estudo seria remanejar o casco da P-68 para o Brasfels, optando por fazer um “swap” das unidades e licitando a integração da P-69 mais adiante.
Substitutos da Iesa
Também até o início de maio, a área de Engenharia planeja concluir a licitação internacional para a contratação da empresa que substituirá o contrato rescindido com a Iesa. Os trabalhos serão reiniciados imediatamente após a assinatura do contrato.
Como os turbocompressores e os turbogeradores já estão comprados, a Petrobras vem estimando nove meses para a obra e mais dois meses de transporte até o Brasil. Se tudo correr dentro do esperado, sem nenhum deslize no cronograma, os módulos chegariam aqui em abril.
Para tentar evitar novos problemas, o escopo de contratação dos módulos foi alterado. Em vez de entregar os seis módulos a uma única empresa, como fez com a Iesa, o serviço será distribuído entre dois grupos distintos.
Um ficará com o lote da P-66 e P-68, e outro com o da P-67 e P-69. Os serviços para a P-70 e P-71 serão entregues posteriormente, de acordo com a performance executada pelas empresas vencedoras.
Paralelamente à licitação, a área jurídica da Petrobras tenta retomar os equipamentos que estão no pátio da Iesa, no polo naval de Charqueadas (RS). Como não há previsão de liberação e nem sequer se sabe se a Justiça dará ganho de causa à Petrobras, a área de Engenharia optou por licitar o serviço sem contar com a possibilidade de utilização desses equipamentos. Se liberado a tempo da construção dos últimos módulos, o material poderá ser utilizado nas últimas unidades, ou colocado à venda.
Depois de concluir a contratação dos novos moduleiros para o sistema de compressão das seis unidades, a Petrobras terá o desafio de renegociar com o Brasfels a instalação, pelo menos, dos equipamentos da P-66, já que os outros módulos desta unidade, construídos pela Tomé Ferrostaal e o consórcio MGT), já foram entregues. Outra saída, também cogitada pela Petrobras, seria licitar, no curto prazo, a finalização da integração.
Preço salgado
A conta a ser paga pela Petrobras em função dos atrasos nos cronogramas das obras de construção desses FPSOs será pesada, sobretudo agora, diante da necessidade premente da empresa de aumentar sua produção para melhorar a situação de seu caixa. Em jogo estão muito mais que os 12 FPSOs, o que por si só já seria muito. O imbróglio envolve uma capacidade instalada de 1,8 milhão de barris/dia, cerca de 60 novos poços e compromete negativamente a curva de produção projetada até 2020.
Considerando o atraso mínimo de um ano, já confirmado por alguns parceiros da Petrobras no cluster, é possível estimar, por baixo, um volume não produzido de no mínimo 150 mil bia/dia, já em 2016, isso levando em conta que cada uma das quatros unidades próprias programadas para entrar em operação nessa data – P-66 (Lula Sul) e P-67 (Lula Norte), P-74 e P-75 (ambas programadas, originalmente, para a área de Búzios) – teria apenas um poço interligado.
Extrapolando essa projeção para 2017, o estrago ficaria ainda maior, tendo em vista que o Plano de Negócios 2014-2018 prevê o início de operação de cinco outras unidades, a P-68 (Lula Extremo Sul), P-69 (Lula Oeste), P-70 (Iara Horst), P-76 e P-77 (ambas projetadas para produzir em Búzios).
Embora seja difícil precisar o impacto exato desses atrasos na média anual de produção, é inquestionável que o problema afetará as projeções da curva de 2018, ano no qual a Petrobras previa a entrada em operação das três últimas unidades próprias do cluster – P-72 (NE de Tupi), P-71 (Iara NW) e P-73 (Entorno de Iara) –, e também de 2020, quando, segundo o PN 2014-2018 seria atingida a marca de 4,2 milhões de b/d de óleo. O estrago já foi feito e a nova estratégia de ações servirá apenas para conter seu efeito cascata.
Com os reservatórios do pré-sal produzindo acima do esperado e as unidades em operação atingindo sua capacidade máxima antes mesmo da interligação de todos os poços, a Petrobras terá pouca margem de manobra para, por exemplo, efetuar compensações e antecipar a interligação de outros poços em unidades afretadas do cluster. Vista, até então, como uma grande vantagem, nesse caso a alta produtividade do pré-sal de Santos passa a ser um fator limitador.
A margem de manobra da Petrobras no cluster, em 2016, estará limitada aos FPSOS Cidade de Saquarema e Cidade de Maricá, previstos para entrar em operação nessa mesma ocasião, podendo se estender também ao Cidade de Itaguaí, se a unidade programada para dar partida em 2015 ainda não estiver operando a plena carga. As outras unidades em operação na área, os FPSOs Cidade de São Paulo, Cidade de Paraty, Cidade de Ilhabela e Cidade de Mangaratiba, já estarão produzindo no limite de sua capacidade.
A longa espera pelos cascos
Passados cinco anos da assinatura do contrato para construção dos oito cascos dos FPSOs replicantes, a estratégia adotada pela Petrobras de construir no Brasil e de concentrar todas as unidades em um só contratante se mostra ineficiente. Até o momento, a Engevix entregou apenas uma unidade, a P-66, que desde dezembro está no Brasfels, em Angra dos Reis (RJ).
Além da P-66, apenas dois outros cascos têm obras mais adiantadas, a P-67, construída também no Rio Grande, e a P-68, cuja construção foi transferida para o estaleiro Cosco, na China, na tentativa de minimizar os impactos do atraso.
Os demais cascos ainda estão em fase de montagem de blocos. A P-69, também nesse estágio, tem um progresso de 50% executado.
No caso dos cascos da P-67 e P-68, a expectativa é de que a conclusão das obras ocorra até o fim de 2015. Já os demais, a P-69, P-70, P-71, P-72 e P-73, ficariam prontos apenas em 2017, com possibilidade de adiantamento da P-69 para 2016.
A obra de construção da P-67 está com 88% de realização, já com o casco todo pronto e os módulos de acomodação e de utilidades instalados no deque. Daqui a dois meses, o casco deverá ser transferido para o cais, para os acabamentos finais. A previsão de saída é outubro.
O casco da P-68 foi tirado do dique seco em fevereiro e, desde então, está sendo submetido aos acabamentos finais no cais do estaleiro chinês. A previsão é de que a obra seja concluída em julho e que o equipamento chegue ao Brasil entre os meses de agosto e setembro.
Assim que o casco da P-67 deixar o dique seco do Rio Grande, a P-69 será transferida para essa área e terá início a montagem dos módulos da P-70.
A maior preocupação da Petrobras no momento está ligada à saúde financeira da Engevix, que já enfrentava problemas antes da Operação Lava Jato e teve sua situação agravada ainda mais após as denúncias de envolvimento da empresa em esquemas de corrupção na Petrobras. A grande dúvida hoje em relação ao contrato é se o grupo terá fôlego para levar as obras até o fim.
Embora evitem falar no assunto e reforcem que a Engevix vem fazendo todos os esforços na continuidade das obras, fontes da Petrobras revelam que informalmente estão sendo feitas prospecções sobre grupos que poderiam vir a assumir o contrato diante de um eventual problema de recuperação judicial. Como a Petrobras tem a posse do estaleiro até 2016, a aposta interna é de que os cascos e todos os equipamentos referentes aos oito replicantes poderiam ser retirados e levados para outras instalações.
Enseada também preocupa
Na obra de conversão dos quatro cascos da cessão onerosa, a preocupação é o Enseada (Odebrecht, UTC, OAS e Kawasaki), grupo que no momento enfrenta dificuldades financeiras por conta do problema da Sete Brasil e da operação Lava Jato. Como no caso do Ecovix, a dúvida é se o estaleiro sobrevive a essa crise ou não.
Disposta a manter os contratos, a Petrobras vem tentando isolar o projeto, aproveitando o fato de as obras estarem sendo feitas no Estaleiro Inhaúma, no Rio de Janeiro, e não na Bahia.
A obra de conversão da P-74 está com 92% de realização e a previsão é de que o casco fique pronto entre os meses de maio e junho. A montagem dos módulos dessa unidade ficará a cargo do EBR, associação formada entre a Toyo-Setal, que também está envolvida na Operação Lava Jato.
Com a saída da P-74 do dique, a P-76 – que atualmente está no cais do Inhaúma – entra para a finalização da conversão, obra que deve se estender até o último trimestre deste ano, quando a unidade será rebocada para o Portal do Paraná, onde será iniciada a operação de montagem e integração dos módulos, pelo consórcio Technip-Techint.
O casco da P-75 está sendo convertido no Cosco e chegará ao Brasil já totalmente pronto para receber os módulos. O casco da P-77 também está na China e, embora a Petrobras afirme que a conversão será finalizada no Inhaúma, não será surpresa se o serviço acabar sendo todo executado no exterior, diante da situação do Enseada. A previsão é de que as duas unidades cheguem ao Brasil entre o fim deste ano e o início de 2016.
Fonte: Brasil Energia Petróleo e Gás – Claudia Siqueira
Cronograma em risco
As obras de fabricação de módulos e integração do topside de dez dos 12 FPSOs da Petrobras contratados com estaleiros brasileiros passam por problemas, o que levará a um atraso em cadeia na entrada em operação das unidades.
Até o momento, somente uma pequena parcela dos 170 módulos contratados começou a ser integrada. Embora o estaleiro Brasfels preveja o término da integração da P-66 – o primeiro replicante – no último trimestre deste ano, o grupo só havia recebido, até o início de março, quatro módulos do consórcio Tomé Ferrostaal e dois módulos da Orteng/Sea Oil.
O Tomé Ferrostaal tem contrato para construir 24 módulos (com possibilidade de extensão para 32). Segundo um executivo do consórcio, outros três módulos, para a P-67, já estão praticamente prontos, e três para a P-68 encontram-se em estágio avançado de conclusão.
A expectativa é concluir a fabricação de todos os módulos até o fim do primeiro semestre de 2016. “Estamos renegociando prazos com a Petrobras devido aos atrasos na entrega de cascos”, revela.
O Orteng/Sea Oil, por sua vez, tem contrato para fornecer quatro módulos para as plataformas P-66 e P-69. Depois de concluir os módulos da primeira unidade, o consórcio se prepara para entregar os dois módulos da P-69 em junho.
“As entregas estão sendo feitas sem nenhuma dificuldade ou problemas de interrupção”, afirma o diretor Regional da Orteng, João Martins da Silva.
Outros 18 (+6) módulos para os FPSOs replicantes foram encomendados ao consórcio MGT, formado pela DM Construtora e a TKK Engenharia, que está em processo de recuperação judicial e recentemente foi incluída na lista de empresas impedidas de contratar com a Petrobras. Desse total, três unidades – os módulos M05, M15 e M16 – foram concluídos. A previsão da empresa é concluir todo o escopo do contrato até 2017.
A construção dos demais módulos das oito plataformas replicantes foi encomendada aos três integradores que levaram o pacote I das unidades: Keppel Fels Brasil (P-66 e P-69), consórcio Integra (OSX e Mendes Júnior (P-67 e P-70) e Jurong Aracruz (P-68 e P-71).
No estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis (RJ), estão em andamento as atividades de içamento dos módulos para a P-66, bem como a construção dos módulos da P-69. Ambas as plataformas serão integradas pelo estaleiro.
O consórcio Integra não respondeu ao contato da reportagem, e a diretoria do Jurong informou que não comentaria o assunto. A Petrobras tampouco deu detalhes sobre essas obras.
No mercado, há uma grande preocupação com os contratos de integração firmados com a Mendes Júnior e a OSX, a última em recuperação judicial. Há quem garanta que nada está andando no estaleiro da empresa no Porto do Açu, na região Norte do Rio de Janeiro. Lá, será feita a integração das duas unidades.
Cessão onerosa
No mercado também comenta-se que há atrasos nas obras do EBR, formado pelo consórcio Toyo-Setal, que teve dois diretores citados na operação Lava Jato, os quais fizeram acordo de delação premiada.
Em fevereiro, o estaleiro em São José do Norte (RS) recebeu, do consórcio Orteng/SeaOil, a estrutura do módulo elétrico e o sistema de automação (ECOS) para o topside da P-74. A previsão é que a montagem elétrica seja finalizada em maio.
Outro subcontratado do EBR – neste caso, por meio da UOP –, o Enaval entregou em janeiro os módulos de remoção de CO2 da P-74. O estaleiro também constrói os módulos de remoção de CO2 da P-75. A expectativa era entregá-los até o fim de março.
O estaleiro tem ainda contratos com a Aibel para fornecer cinco módulos para a P-74 e com a GE O&G, para o módulo de geração de energia. A fabricante norte-americana também entregará o mesmo tipo de módulo para a P-75, P-76 e P-77.
O EBR e a Techint não responderam ao contato da reportagem para comentar o estágio de conclusão das obras.
As dificuldades financeiras enfrentadas por parte dos epecistas envolvidos com a construção dos FPSOs da Petrobras afetam diversos fabricantes de máquinas e equipamentos brasileiros.
Entre pagamentos a receber e a faturar, a dívida dos epecistas com os subfornecedores das 12 plataformas chega a quase R$ 150 milhões, de acordo com dados levantados pela Abimaq.