Estaleiros percebem aquecimento de projetos e boa taxa de ocupação nos diques para embarcações de serviço

  • 27/12/2023

Os estaleiros percebem uma demanda mais consistente no radar para construção de embarcações de serviço, com consultas mais objetivas para fechar negócios. O apoio portuário, a navegação interior e o offshore continuam a demandar trabalhos para instalações de médio porte. Algumas empresas percebem o humor renovado de alguns armadores diante do aquecimento do setor de petróleo e gás. Os estaleiros destacam as boas taxas de ocupação nos diques, muito em função de docagens para reparo e das demandas do apoio marítimo por modernizações. Uma das apostas do mercado é melhorar a produtividade dos serviços oferecidos. Entre os desafios está a oferta de mão de obra especializada e a dificuldade recente enfrentada com falta de insumos/componentes na cadeia de suprimentos internacional.

 

Os projetos que receberam prioridade na 53ª reunião ordinária do Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM), realizada em setembro, preveem serviços em 12 estaleiros das regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. As propostas são voltadas à construção, modernização, conversão, docagem e reparo de embarcações, aquisição e instalação de equipamentos para navegação interior (hidrovias) e marítima. Dos quase R$ 3 bilhões em valores priorizados, aproximadamente metade está destinada à navegação interior. Outro destaque abrange recursos para construção de quatro embarcações de apoio offshore.

O Detroit Brasil (SC) verifica um leve aquecimento, com alguns projetos principalmente para embarcações de apoio portuário e de navegação interior sendo contratados junto aos estaleiros. Porém, avalia que a variação mais importante está relacionada à mudança de humor do mercado. A empresa percebe um otimismo crescente entre os diversos armadores que começa a ser refletido nessas recentes contratações e na busca por recursos junto aos agentes financeiros.

Já o mercado de reparos e modernizações seguiu o que já era esperado, com muitas embarcações de apoio marítimo atualizando suas plantas para atender a novos requisitos da Petrobras ou das novas petroleiras internacionais que chegaram ao mercado, somando-se às demandas por docagens de classe e a eventuais reparos emergenciais. “Os diques brasileiros permaneceram com uma boa taxa de ocupação, assim como já vinha acontecendo nos períodos anteriores”, observa o gerente comercial e de projetos do Detroit Brasil, Marcelo Rampelotti.

A carteira atual do Detroit conta quatro rebocadores azimutais, além de alguns reparos já previstos para 2024. Rampelotti relata que, em números gerais, o volume de consultas é levemente melhor que o dos últimos anos. “O mais interessante e que nos deixa otimistas é que as consultas atuais demonstram maior potencial de realização, enquanto, nos últimos anos, os projetos eram consultados mais em caráter de especulação, onde muitas vezes não percebíamos a real intenção de contratação por parte dos armadores”, analisa Rampelotti.

No curto prazo, a principal aposta do Detroit Brasil está no mercado de apoio marítimo. A leitura é que a chegada de novas plataformas e a necessidade de renovação dos ativos para atendimento de novos requisitos operacionais resultará na contratação de novas embarcações junto aos estaleiros nacionais. A Petrobras sinalizou que pretende contratar até 36 embarcações de apoio nos próximos anos. “No longo prazo, também enxergamos a indústria eólica offshore como uma potencial demandante. Mas, para isso, é preciso que o tema da viabilização dos campos offshore permaneça caminhando junto às autoridades”, avalia Rampelotti.

Rampelotti conta que, no momento, os investimentos estão focados em manter a planta fabril atual. Ele lembra que o Detroit foi um dos poucos estaleiros do país a passar por toda a crise do setor sem parar, executando reparos e novas construções, incluindo exportações de navios. “Mantivemos nossas instalações ativas e prontas para a retomada do mercado brasileiro e mundial, sem necessidade de qualquer movimento extra para atendimento ao mercado futuro”, destaca. O gerente acrescenta que o estaleiro vem investindo em certificações ISO, no intuito de melhorar a produtividade e ofertar padrões de qualidade cada vez mais elevados.

Na avaliação do Detroit, existem três grandes pontos a serem superados. Um deles é a mão de obra especializada que, no caso de uma eventual retomada do mercado a níveis próximos aos do início da década passada, demandará a formação em massa de novos profissionais, ainda que parte da mão de obra dispersa volte a construção naval um esforço grande de capacitação terá de ser feito por todos os estaleiros no país.

Outro ponto, na visão do Detroit, está ligado ao cenário internacional e à cadeia de suprimentos. “Recentemente sofremos com variações impensadas nos custos do frete e de produção de equipamentos, principalmente na Europa e, como a indústria local ainda não consegue atender muitas demandas da construção naval, certamente estaremos sujeitos às incertezas do mercado externo”, elenca. Ele finaliza citando a questão do custo Brasil, em razão dos altos custos para manter a força de trabalho, além da carga tributária alta e de todas as questões que, há tempos, a indústria naval vem pleiteando para reduzir a disparidade com os estaleiros estrangeiros.

O Estaleiro Rio Maguari (PA) faz uma avaliação positiva dos últimos 12 meses, levando em conta que os mercados atendidos pelo estaleiro continuam demandando novas embarcações, principalmente na navegação interior e apoio portuário. Os principais projetos em andamento no ERM são a construção de dezenas de barcaças graneleiras para navegação interior, 4 rebocadores portuários de 70 TPB (toneladas de porte bruto) e 2 conjuntos ATB (comboio oceânicos articulados) para cabotagem.

Para o ERM, o potencial de novos negócios está ligado diretamente à efetivação de projetos de infraestrutura e de exploração de petróleo na região, especialmente o derrocamento do Pedral do Lourenço no Rio Tocantins, a implantação da Ferrogrão e a autorização de exploração de petróleo na Margem Equatorial, na costa do Amapá. Além disso, é necessário velocidade na aprovação de licenciamentos ambientais de terminais portuários na região, fatores que, combinados, aumentarão significativamente a demanda por comboios fluviais e embarcações de apoio marítimo.

O diretor comercial do ERM, Fábio Vasconcellos, vê uma nova onda de comboios fluviais de grãos para atender o Arco Norte e de comboios fluviais para minério para a Hidrovia do Paraguai. “A demanda reprimida existe em função da espera por licenciamentos ambientais de terminais e à efetivação de obras de infraestrutura, como o derrocamento do Pedral do Lourenço, por exemplo”, descreve. Vasconcellos afirma que o estaleiro tem realizado investimentos importantes na infraestrutura produtiva para a construção dos ATBs, especialmente na capacidade de movimentação de carga, em galpões de construção de painéis e blocos e na aquisição de equipamentos.

A Edison Chouest Offshore (ECO) avalia que o ano de 2023 foi bem intenso para o Estaleiro Navship (SC). No início do ano, o grupo contratou em torno de 250 novos colaboradores, chegando a um efetivo de pouco mais de 1.000 funcionários. Entre as principais atividades de 2023 estão: a construção do casco NAV145 (Bram Rio), PSV 4.500 com configuração multipropósito e previsão de entrega para maio de 2024; 16 conversões e adaptações para novos contratos; 12 docagens de classe e mais 4 docagens emergenciais; mais de 40 serviços de reparos diversos prestados para Bram Offshore e suas parceiras.

Entre os principais projetos na carteira do estaleiro estão a finalização da construção do casco do Bram Rio, além do início do corte das novas embarcações NAV151 e NAV152 programadas para 2024, assim como 12 docagens de classe e 5 conversões e adequações de novos contratos previstas para 2024. “Estamos confiantes que somos o estaleiro mais preparado para essa retomada do setor offshore e que podemos assumir uma boa parcela dessa demanda por novas embarcações”, afirma o vice-presidente executivo do grupo Chouest de Empresas na América Latina, Ricardo Chagas.

O VP executivo da Edison Chouest destaca que a Navship é um estaleiro novo e bem moderno, munido do que existe de mais tecnológico para construção naval. “Recentemente, fizemos a aquisição de uma nova máquina de corte a plasma e de uma nova máquina de corte de tubos, o que nos garantirá uma maior eficiência no processamento de material”, afirma Chagas. As máquinas têm previsão de início de operação no primeiro trimestre de 2024.

Nos últimos 12 meses, a Belov entregou os dois primeiros empurradores híbridos do planeta, que foram construídos no estaleiro do grupo na Bahia. “Temos sido solicitados constantemente sobre construções de embarcações desse porte, assim como algumas conversões de embarcações de apoio marítimo. Além disso, muitas docagens já estão programadas em nosso dique flutuante”, elenca o diretor de obras e serviços subaquáticos da empresa, Juracy Gesteira Vilas Bôas.

O estaleiro entregou o OTSV Belov Mares para a Belov Engenharia, empresa do mesmo grupo econômico do estaleiro. Vilas Bôas destaca que foi a conversão de um PSV (transporte de suprimentos) que foi totalmente convertida no estaleiro, inclusive com a construção de dois carretéis de armazenamento e manuseio com 400 metros de mangotes de offloading em cada um.

O estaleiro está concluindo a modernização em uma embarcação de mergulho raso, onde aumentou a capacidade dos bow thrusters, incluindo um redesenho do bulbo de proa, alteração de toda abolina, instalação de aerofólios na popa e substituição de todo o sistema de mergulho e vários equipamentos eletrônicos. Além disso, o estaleiro está construindo uma draga para um cliente e tem um rebocador em docagem de classe e outros para serem docados na sequência.

O diretor de obras e serviços subaquáticos diz que a Belov vem sendo consultada para vários projetos de construção. Segundo Vilas Bôas, a demanda que estava reprimida, desde a pandemia de Covid-19, postergou investimentos das empresas que começam a retomar com força a atividade. Ele destaca que a construção dos empurradores híbridos tem sido um excelente cartão de visita para os players que buscam esse tipo de solução.

“Estamos percebendo que o mercado está cada vez mais em busca de soluções mais verdes”, ressalta Vilas Bôas.

Ele acredita que o maior desafio da indústria naval brasileira é a concorrência com outros países que têm preços bem mais baratos que os nacionais. Para o diretor da Belov, incentivos ao conteúdo local fazem diferença para a indústria. Vilas Bôas acrescenta que a região onde está instalado o estaleiro possui carência de mão de obra especializada para atuar na construção naval. Por conta disso, o grupo mantém um programa de treinamento e qualificação que sempre é intensificado a cada novo projeto.

Os estaleiros já percebem uma nova demanda por capacitação de profissionais. A avaliação é que a baixa dos últimos anos resultou na eliminação de inúmeros postos de trabalho da construção naval, fazendo com que a força de trabalho, que vinha se especializando em todo o Brasil desde a retomada da construção naval no início dos anos 2000, se dispersasse no mercado, buscando espaço e sendo absorvida por diferentes segmentos.

Para Rampelotti, do Detroit, esse leve aquecimento já faz com que, mesmo estando localizados em um dos principais celeiros da construção naval brasileira, seja possível perceber uma escassez de profissionais qualificados. Já Vasconcellos, do Estaleiro Rio Maguari, diz que a demanda por capacitação de pessoal tem crescido bastante em função do crescimento da demanda por embarcações e que o ERM trabalha permanentemente na melhoria da capacitação do pessoal, através de treinamento interno e cursos externos de qualificação.

Chagas, da Edison Chouest, relata que, este ano, o Navship sentiu dificuldade em encontrar mão de obra qualificada para o crescimento que o estaleiro teve em 2023. Um dos motivos é devido ao baixo nível de desemprego de Santa Catarina, que girava por volta dos 3,5%. Outro fato é devido à instabilidade do mercado de construção naval que reduz a atratividade dessa atividade.

O executivo destaca que, em 2023, começou um projeto em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), no qual estaleiros da região e a prefeitura de Navegantes (SC) trabalharam para criação de cursos básicos de formação de profissionais que desejam entrar no mercado naval. “Esse projeto deve ter seu início em meados de 2024. Além disso, voltamos a trabalhar no projeto de desenvolvimento do centro de treinamento interno da Navship para qualificação dos nossos colaboradores”, conta Chagas.

Vilas Bôas, da Belov, observa o mercado de construção e reparos navais sempre em busca de novas soluções, o que obriga a constantes investimentos dos estaleiros em novas tecnologias. Ele conta que a Belov fez um grande aporte quando construiu os SDSVs (barcos de mergulho raso). “Nesse momento em que investimos em dois grandes galpões móveis sobre trilhos e também o projeto e construção do nosso dique flutuante”, lembra Vilas Bôas.

A empresa realizou outros investimentos menores, como uma nova CNC de corte e um galpão de jato e pintura. A Belov também investiu em computadores, softwares e treinamento de pessoal para que os projetos estejam alinhados com o que há de melhor no mundo. “Hoje, todas as embarcações que entram em nossa carteira são detalhadas em 3D nativo e, assim, conseguimos diminuir interferências e aumentar produtividade”, destaca Vilas Bôas.

O diretor-executivo dos Estaleiros da Wilson Sons, Adalberto Souza, conta que os últimos meses foram de intensa demanda para construção, seja por meio de solicitações de informações sobre capacidade produtiva dos estaleiros, seja por solicitações de preços e de montagem de processos para entrada em fundos de financiamento da marinha mercante (FMM). “Em paralelo, o mercado de manutenção, docagem e conversões se mantém aquecido. Os armadores estão atualizando, tecnologicamente, suas frotas e as mantendo disponíveis para atendimento das demandas do mercado”, resume Souza.

A atual carteira da Wilson Sons tem um contrato de construção para seis rebocadores, dos quais quatro já foram entregues, projeto Damen ASD 2513, com a instalação de sistema de filtro de NOx (TIER III). A empresa destaca que são as primeiras embarcações desse tipo no Brasil, mesmo não sendo mandatório sua aplicação no país. Esse padrão, da Organização Marítima Internacional (IMO), é exigido somente em áreas de controle de emissão, como em regiões da América do Norte e da Europa. Souza explica que o novo projeto de casco permite diminuir as emissões de gases de efeito estufa, com uma redução estimada de até 14% no consumo de combustíveis fósseis.

Ele acrescenta que, além das construções de rebocadores em andamento, a empresa presta serviços de docagem para armadores de cabotagem, offshore e para apoio portuário. “Recebemos consultas de pré-qualificação para construções para Petrobras. Para o grupo J&F, temos consultas para barcaças e empurradores fluviais. E para diversos armadores, consultas de manutenção e docagem”, revela Souza.

Para Souza, a demanda por capacitação de profissionais deve acontecer em 2025, e não em 2024 como na previsão de alguns agentes setoriais. A avaliação da Wilson Sons é que o atual grupo de colaboradores é formado por ‘multiplicadores’ para a nova demanda e precisarão estar preparados para este desafio.

A empresa informa que, para que seus profissionais possam desempenhar esta multiplicação de forma eficiente e assertiva, focada no melhor resultado em termos de segurança, qualidade e custos, tem desenhado um projeto de desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais a serem trabalhadas nos próximos anos. Outra aposta são projetos de eficiência operacional baseados nas ferramentas de qualidade, como PDCA (planejar, fazer, checar e agir/ajustar) e 5S (princípios de utilização, organização, limpeza, padronização e disciplina).

Para os próximos anos, um dos focos da Wilson Sons são as embarcações gaseiras para a Petrobras, que estão adequadas às capacidades técnicas do estaleiro. Outros pontos de atenção são as demandas do grupo J&F e a renovação da frota do grupo. Souza cita ainda a demanda das indústrias offshore na renovação da frota, bem como um PSV com tecnologias para redução dos gases de efeito estufa.

O diretor diz que o grande investimento da Wilson Sons neste segmento foi a construção do Estaleiro Guarujá 2 (SP), que comemorou 10 anos de existência. Ele destaca que, ao longo deste tempo, a Wilson Sons manteve os investimentos na área de manutenção e nos ativos, com o objetivo de complementar a produtividade com o acréscimo de equipamentos de transporte, elevação e de segurança, de forma a manter-se na vanguarda do mercado. “No último ano, tivemos a aquisição de um sistema de jateamento de casco robotizado, que se utiliza de um sistema magnético para se prender ao casco e motorização para deslocamento e jateamento controlado”, exemplifica Souza.

Ele também cita o Sistema de Controle aos Equipamentos Móveis (CARSIF), que libera a operação dos equipamentos por meio do crachá do operador, apenas para colaboradores que estejam com treinamento/ASO em dia. Ele menciona ainda o sistema Sismo, parceria com a Hidromares, que permite saber as condições da maré e vento, por meio de um aplicativo. Foram instalados um marégrafo na comporta e um equipamento no pórtico para medir a velocidade do vento.

Na avaliação do estaleiro, a obtenção de financiamento do FMM para os armadores poderá viabilizar novas construções. Além disso, a busca por inovações tecnológicas visando eficiência, principalmente ligadas a redução da pegada de carbono, serão um diferencial competitivo.

Souza afirma que o estaleiro vem se atualizando e se capacitando, em conjunto com as principais sociedades classificadoras pertencentes a IMO, projetistas internacionais e startups, para implementar alternativas tecnológicas como hibridização, eletrificação de embarcações, utilização de biocombustíveis, entre outras iniciativas. “Acreditamos que manter nosso corpo técnico permanentemente atualizado e atuando na vanguarda destas tecnologias de redução de carbono trará, aos armadores parceiros, uma vantagem competitiva relevante no ambiente de negócios atual”, projeta Souza.

Em debate promovido pela Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval Brasileira, em novembro, os agentes destacaram que o setor não retomará sua força de trabalho do zero, mas precisa de uma preparação para atender a um possível ciclo de crescimento, que deve gerar aumento de demanda por mão de obra capacitada. Na ocasião, o presidente da Frente, o deputado Alexandre Lindenmeyer (PT-RS), acredita que o Brasil vive um processo estratégico de retomada da indústria naval com força, que vem avançando de forma gradativa.

“Precisamos preservar os recursos humanos existentes e, ao mesmo tempo, retomar a qualificação e preparação dos recursos humanos necessários para essa demanda, que é estratégica para o país”, afirmou o parlamentar. Lindenmeyer lembrou que, desde 2015, o número de trabalhadores empregados pela construção naval, que era superior a 80.000, caiu para menos de 20.000, conforme dados do Sinaval.

Ele mencionou que existe uma série de projetos em estaleiros de diferentes portes no país e que há perspectivas positivas a partir da sinalização, por parte da Petrobras, de construção de módulos e de embarcações de apoio marítimo em estaleiros nacionais. O deputado acrescentou que existe um horizonte com plataformas para desmantelamento e com a construção de navios para a Marinha do Brasil, que continuarão a demandar mão de obra capacitada.

O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) avalia que a perda de 60.000 empregos, nos últimos 10 anos, evidenciou que a contratação de projetos no exterior penalizou a construção naval do país. O secretário-executivo do Sinaval, Sérgio Leal, comparou que, no começo dos anos 2000, houve um desafio maior do que atual para a formação de mão de obra porque a indústria estava desmobilizada há 20 anos e porque foram construídos estaleiros nas regiões Nordeste e Sul, que precisaram de um tempo para se consolidar.

Leal ponderou que, depois do 10º navio do Promef construído para a Transpetro, os estaleiros em Pernambuco atingiram níveis de produtividade similares aos de estaleiros na Ásia. “Sabemos que, se a curva de aprendizagem demorasse mais e se os contratos não fossem cancelados, teríamos uma melhoria ainda maior da produtividade”, afirmou, no debate da frente parlamentar que discutiu a capacitação de recursos humanos para indústria naval e setores impactados.

Na ocasião, o secretário-executivo do Sinaval acrescentou que existem outros fatores a serem superados na equação da competitividade, como a necessidade de melhoria dos encargos sociais pagos pelos empregadores que encarecem os custos dos estaleiros com mão de obra no Brasil.

O Senai vem fazendo levantamentos junto a estaleiros e a segmentos da indústria naval a fim de mensurar a demanda por profissionais e a necessidade de cursos de treinamento e capacitação, pensando num cenário de aquecimento nos próximos anos. A instituição integra um dos grupos de discussão junto ao governo que discutem a construção de uma política para a atividade de construção naval.

A especialista em desenvolvimento industrial do Senai Nacional, Juliana Cardoso, explicou que a primeira etapa é de abordagem e levantamento de informações que vão balizar as discussões no grupo de trabalho sobre um plano nacional de formação de profissionais para atuar no setor naval. Ela destacou que a pesquisa conta com apoio de entidades como o Sinaval e da Marinha. “O Senai já atuou fortemente na capacitação desses profissionais, mas sabemos que existem outros envolvidos e estamos todos conversando sobre esta pauta para a construção desta agenda”, disse Juliana, durante a audiência.

Fonte: Portos e Navios – Danilo Oliveira